quinta-feira, 14 de julho de 2011

Belting - Técnica

Este é um artigo de otorrinolaringologia a respeito da técnica chamada Belting acessado em Acta ORL neste endereço:
http://www.actaorl.com.br/detalhe_artigo.asp?id=227





Acta ORL v.26 n.1 - Páginas 4 a 68 - São Paulo - Jan/Fev/Mar - 2008


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Artigo Original Páginas: 13 a 14
Belting: uma visão otorrinolaringológica
Belting: an otolaryngologic approach
Luís Henrique Chechinato Costa1, André de Campos Duprat2






Descritores: Belting, Laringe, Qualidade da Voz


RESUMO:
O belting é um padrão musical caracterizado pela qualidade da sua projeção, clara e de alta energia. Consagrado no teatro musical, tem despertado interesse de otorrinolaringologistas e fonoaudiólogas pelo aumento da demanda atual. É uma técnica descrita como uma extensão do registro de peito, a agudização é atingida às custas de ajustes do trato vocal e da laringe sem utilizar a mudança de registro. No belting há predomínio do funcionamento do músculo tireoaritenóideo aumentando o ciclo fechado da fonação, a laringe é alta, a faringe estreitada e a posição da língua é alta e larga. No exame endoscópico é visto somente a região posterior das ariten óideas e a região superior da cricóidea, as pregas vocais estão completamente escondidas. Todos os ressonadores são usados para o canto, mas para o belting há predomínio da cavidade nasal. Quando bem feito o resultado é um som claro e forte, o bastante não somente para ouvir, mas para sentir e nunca mais esquecer.


INTRODUÇÃO

O belting é um padrão musical caracterizado pela qualidade da sua projeção, clara e de alta energia. Podemos observar traços do belting em diferentes estilos: muitas das músicas étnicas ao redor do mundo, spirituals, blues, rock, gospel, jazz, teatro musical e mesmo no samba.

Mas é no teatro musical onde o estilo foi realmente consagrado e ganhou algumas características próprias, fruto da demanda dos musicais, tornando-se popular em diferentes partes do mundo.

No Brasil, com o aumento dos musicais, a procura por professores de canto especializados no assunto cresceu muito, depertando o interesse de fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas que começaram a atender este grupo de cantores, com diversas queixas relacionadas à exigência que a técnica impõe às estruturas do aparelho fonador, agravadas pela demanda do número de apresentações semanais.

É de conhecimento geral que a música não clássica surgiu como extensão da fala, na qual há um domínio maior do registro de peito. Se assumirmos que os escravos cantavam sons, provavelmente de sua terra natal, em campo aberto, e a qualidade vocal deveria ser tal que fosse ouvida a uma determinada distância teríamos a origem mais provável do belting1.

O primeiro nome descritivo foi o termo coon-shouting ou em português algo como grito do guaxinim. Nos anos 20 por não existir amplificação adequada, era necessário que o canto fosse forte o bastante para encher o teatro, houve então uma popularização desta técnica de canto1.

No dicionário Cambrige um dos significados do termo BELT é Hit Hard ou bater forte com violência, que é o que o cantor faz durante o canto com a técnica de belting, onde a laringe é submetida a uma grande pressão subglótica. Como o termo se adequava bem à forma do canto, pegou e acabou ficando1.

Esta técnica de canto produz um som de alta energia. Mesmo no canto lírico, alguns tenores utilizam esta técnica na emissão de notas altas2. A sonoridade por ser muito forte, é pouco tolerada em locais pequenos, ficando restrita sua utilização em grandes teatros.

O Belting é uma técnica descrita como uma extensão do registro de peito, a agudização é atingida às custas de ajustes do trato vocal e da laringe sem utilizar a mudança de registro. Não é sobre fazer tons bonitos, a qualidade do som produzido é forte, metálica e algumas vezes anasalada. Soa como grito, porém modelado pela organização de suas frequências e pelo seu andamento em forma de música5.

Um belting eficaz significa usar um fluxo consistente de ar, ressonância nasal e uma forte voz falada que sustente os sons cantados. Se o fluxo de ar não for rápido o suficiente, o som pode parecer espremido ou tenso5.

Esta técnica requer uma laringe mais alta, a faringe é estreitada e a posição da língua é alta e larga. O som metálico é obtido pela constrição do esfíncter ariepiglótico e o encurtamento do trato vocal, o que resulta em uma supraglote mais estreita3.

Possivelmente a diferença do belting e outros tipos de canto reside nas forças longitudinais sobre a laringe. Em teoria quanto mais longo o tubo mais escuro é o som, e quanto mais curto o tubo mais claro é o som4. O Som claro do belting seria devido a contração dos músculos infrahi-óideos, usados para estabilizar a cartilagem tireóidea em posição vertical e permitir que a cartilagem cricóidea incline dorso-cranialmente.

Há um predominínio do funcionamento do músculo tireoariten óideo, as pregas vocais ganham massa aumentando o ciclo fechado da fonação em quase 70% e conseqüente aumento da pressão subglótica2.

As características acústicas e fonatórias dos estilos de canto dependem da fonte sonora e da frequência característica dos formantes. São controladas pela pressão subglótica, ajustes laríngeos e formato da faringe4. Quando a laringe é elevada e a faringe estreitada, o resultado acústico é o aumento das frequências de todas os formantes6. Na voz de belting o primeiro formante é elevado a frequência do segundo harmônico, somando as ondas e aumentando a intensidade3.

Em ordem para evitar a sobrecarga das pregas vocais, a parte da boca do trato vocal deve ser gradualmente alargada conforme o pitch aumenta.

É importante enfatizar que o belting não é puramente voz de peito. A voz de peito é vista com a laringe baixa, faringe ampla, posição alongada da boca, e vibração de peito harmoniosa4.

No exame endoscópico é visto somente a região posterior das aritenóideas e a região superior da cricóidea, as pregas vocais estão completamente escondidas. A aparência disto é devida a cartilagem cricóidea inclinar anteriormente3.

Para mulher o belting é mais uma voz mista, peito e médio, que só peito. A sensação não deve ser de tensão, mas o som pode ser intenso devido ao aumento das vibrações ao redor da face pela ressonância nasal. Quando está correto os cantores de belting dizem que a sensação é como de registro médio, mas soa como peito5.

Para os homens é mais simples, para criar um som de belting deve-se procurar um som com ressonância anterior e tom cheio, este tom pode ser atingido com o aumento da ressonância nasal.

A ressonância nasal é um excelente caminho para agudizar sem levar o registro para a cabeça, a voz é tirada da máscara. Esta seria outra diferenças do lírico. O problema é que a ressonância nasal tira a projeção, que precisa ser compensada com a abertura da boca5.

Todos os ressonadores são usados para o canto, mas para o belting o ressonador proeminente é a cavidade nasal. Quando o som muda para ressonância posterior é chamado cobertura, isto é, usa mais ressonância posterior.

A voz com ressonância nasal é mais leve para o agudo. O misto de ressonância posterior com nariz suaviza os efeitos caricatos da ressonância puramente nasal, dando um som mais agradável para a voz5.

É postulado que o belting utiliza o uso o modo de fala da laringe com ambos o pitch e o loudness aumentados e nos extremos de esforço. As doenças encontradas nestes profissionais são pouco diferentes das vistas em indivíduos não profissionais, que apresentam hiperfunção vocal no seu comportamento vocal3 .

O belting é controverso entre cantores e professores de canto, pois se tem a idéia que é uma técnica que pode arruinar a voz, mas na verdade qualquer tipo de técnica mal feita pode arruinar a voz , incluindo uma técnica ruim para o belting. Quando bem feito o resultado é um som claro e forte, o bastante não somente para ouvir, mas para sentir e nunca mais esquecer.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- Robert T. Sataloff, M.D., D.M.A., F.A.C.S.- comunicação pessoal, 2006.

2- Estill, J " Belting and classic voice quality: some physiological differences". In Medical problems of performing artists, Hanley & Belfus, Philadelphia, 1998,3(1): 36-43

3- Lawrence, V "Laryngological observations on belting" J. Res in Singing 1969;2; 26-8.

4- Sundberg J, Grammming P, Lovetri J " Comparisons of pharynx, source, formant and pressure characteristics in operatic and musical theatre singing" J Voice, 1993;6(4): 301-10.

5- Philips, P S "Singing for dummies". Wiley Publishing, New York, 2003.

6- Titze, I. R. "Principle of voice production". National Center for voice and speech, Iowa City, 2000.



1) Mestre - doutorando pelo departamento de otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Professor auxiliar ORL FMJ
2) Doutor - Professor Instrutor do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo
Instituição: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil


Neste vídeo se localiza as partes mencionadas no texto:

Um comentário:

  1. wanilzey castro alves6 de setembro de 2012 às 21:36

    professora eu moro em curitiba dou aulas de canto já a uns 6 anos atualmente estou estudando o belting pois estou trabalhando com o canto gospel, e gostaria de saber valores de sua aula, gostaria muito que uma orifessora com exeperiencia no belting oudese me ouvir e me orientar. aguardo resposta. meu email é tecnicavocalval@gmail.com.
    obrigada!

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