sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Deixar-se ver

Em nosso mundo nos vestimos de imagens, personas que não expressam nosso todo nem nosso Íntimo.
Somos levados, deseducados a crer que essas imagens são nossa verdade. Porém, antes que começemos a apregoar que é a sociedade que nos faz assim observemos melhor.

Temos imagens totalmente abstratas de tudo, desde a árvore a deus. Tudo que carregamos em nosso viver ou sobreviver são imagens, conceitos, de tudo, inclusive de nós mesmos. Quem cria esses conceitos, essas abstraçãos não é o que esta fora de nós mas sim o que processamos, ou quem processa dentro de nós. Contamos com mais do que meros cinco sentidos para apreender o mundo. Porém mal usamos um de cada vez, e além dos cinco óbvios nem mesmo acreditamos ao certo que haja outros. Vivemos tentando conceituar tudo a partir de um conceito limitado do que chamamos de concreto. No entanto concreto é tudo que conseguimos apreender como parte integrante de nosso ser, como o próprio alento que nos sustem, que não vemos, mas é concreto.

Aqui entra o papel da arte nessa conversa. Apreendemos tudo que nós é concreto, conceituamos tudo que nós é abstrato. Quanto mais abstrato mais imaginário, quanto mais imagens mais irreal. Onde foi que perdemos nosso contato com o concreto dentro de nós mesmos? Como posso ver com todas as portas do meu ser, não apenas com os cinco sentidos, aquilo que é apenas imagens? Como posso me deixar ver se dentro também carrego uma imensa bagagem de imagens do que sou e do que deveria e gostaria de ser?

Quando interpretamos um papel artístico, seja dramatizado, cantado, esculpido ou pintado, esse papel surge de dentro de nós. Diriamos: "mas eu não sou a prostituta, eu não sou o malandro, eu não sou isso ... ", mas alegremente diriamos de papeis como o Rei, o mártir, a donzela "eu nem imaginava que eu era assim!". Como mudam as pesperctivas! A arte nos permite  vermo-nos além das personas, além das imagens, porque ao contrário do que se pensa, em um palco se há que ser o mais verdadeiro. Fiel ao papel, se diz. Em um palco nos deixamos ver, e quanto mais verdadeiro mais próximo do público. Quanto mais atento em ser, mais esquecido de tudo, e mais entregue.

Hoje a arte virou terapia ... ao descer do palco se esquece tudo ... voltamos a nossa vida normal. Porque não conseguimos viver esse ser verdadeiro e deixar-nos ver? Medo. Pois assim como não nos apreendemos com todas as portas de nosso ser porque não queremos ser o que há de mal e temos certa vergonha de ser o que há de bom, não sabemos apreender o outro. Vemos e deixamos ver apenas aquilo que é de acordo com nosso ego. A Arte não permite isso. Ou se é total e completamente verdadeiro ou não serve, não convence, fica na superfície, é morno. E é assim que somos, mornos em tudo e perdemos o controle a cada passo, porque quem consegue controlar imagens?

Vivamos em Arte a cada segundo. Estejamos analisando sempre "estou sendo realmente fiel, isso que estou mostrando é verdade?" Sejamos ocupados em apreender os outros, em apreender a verdade do outro. Uma vez que consigamos nos mostrar seremos um porto. Uma vez que consigamos nos ver além das imagens seremos fiéis ao nosso Íntimo eliminado o que nos faz mal. Vivamos a Arte, ela não é uma terapia ou um hobby, é uma escolha de vida. Deixemo-nos ver e vejamos com todos os nossos sentidos.

Um comentário:

  1. Sim a Arte não tem dono e não se curva nem ao dominio do maior dos ditadores.
    Não se pode defini-la, apenas contempla-la, e ela se revela diferente a cada olhar que insiste em conceituar, dando forma se reservando á aquele que vislumbre o que nela está.
    Assim somos nós uns para os outros. Eu pra ti e tu pra mim.

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