Alterações crônicas podem ser muito mais do que sintomas passageiros consequentes das baixas temperaturas do inverno
Jornal de Londrina 01/07/2009 | 00:08
Quem deve ficar mais atento são profissionais que têm a voz como instrumento de trabalho, como professores, atendentes de telemarketing, cantores, atores e locutores. Várias outras situações podem provocar disfonia crônica: fumo, álcool, alteração hormonal, distúrbios na tireóide, problemas neurológicos ou psicológicos, fadiga, má alimentação, ar condicionado e poluição.
Sem os cuidados adequados, lesões podem ocorrer e provocar disfonia, levando a danos irreversíveis. “Em muitas pessoas, um problema de voz ameaça a atividade profissional”, diz o otorrinolaringologista Evaldo Macedo, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia. Segundo o especialista, não há uma estatística mundial segura sobre a incidência de casos de disfonia por abuso da voz, mas ele afirma que pode acontecer em cerca de 20% dos profissionais, dependendo do grupo de atuação. “Os professores e atendentes de telemarketing são os mais afetados em função de suas cargas de trabalho muito puxadas. Muitas vezes eles não têm um treinamento adequado para a prevenção”, explica Macedo.
Sintomas frequentes de rouquidão – decorrentes de oito horas diárias falando sem parar –e as faltas dos professores, passaram a ser um sinal de alerta para a direção do Colégio Bom Jesus, de Curitiba. Há 12 anos, foi criado o Programa de Voz, com o objetivo de prevenir e tratar o aparecimento de alterações nos cerca de mil docentes da instituição. “É preciso usar a voz de uma forma adequada, com correta respiração e projeção, para evitar lesões nas pregas vocais”, orienta a fonoaudióloga Sônia Arns Guimarães, responsável pelo programa. Na rede estadual de ensino, os professores são orientados pelo programa Saúde Vocal, Cuidando da Voz do Professor.
Perda total
Se a rouquidão permanecer por mais de 15 dias pode estar escondendo outros problemas mais graves, como um câncer na região da laringe. O Brasil tem a terceira maior incidência mundial da doença, cujo vilão número um é o tabagismo. Um exame chamado video laringoscopia feito por um otorrinolaringologista poderá detectar o problema. “O primeiro sintoma do câncer é a rouquidão. O diagnóstico precoce permite 100% de cura, sem cirurgia”, explica o especialista Luiz Carlos Sava, chefe do Serviço de Otorrino laringologia do Hospital Cajuru.
Em muitos casos é preciso retirar a laringe totalmente para remover o tumor e salvar a vida do paciente. Mas é inevitável a perda da fala. O problema é amenizado com a produção de som através do esôfago, mas que não terá a sonoridade natural. “Algumas pessoas recorrem a um aparelho chamado laringe artificial, colocado próximo ao pescoço. A pessoa faz o movimento labial da palavra e o aparelho transmite o som com uma voz que parece robotizada”, conta a fonoaudióloga Tânia Coelho, vicepresidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia.
Crianças
São comuns os casos de disfonia em crianças, a maioria na faixa dos quatro aos cinco anos de idade, principalmente devido a maus hábitos vocais. Um público significativo que há cerca de dez anos não existia. “A dinâmica das famílias mudou. Hoje os pais não têm tempo para os filhos e eles usam o grito para serem ouvidos”, explica a fonoaudióloga Maria Regina Serrato, coordenadora do curso de fonoaudiologia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Ela explica que isto acontece também em famílias que têm o hábito de falar muito alto. Para essas crianças, a cirurgia não é indicada, pois as pregas vocais ainda vão crescer durante a puberdade. Nesse caso, se surgirem nódulos ele serão absorvidos. “Se o comportamento delas não mudar, o problema reaparecerá. Só conseguimos bons resultados quando as famílias mudam a dinâmica e entendem que as crianças precisam de espaço para serem ouvidas”, diz Maria Regina.
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